sábado, 24 de novembro de 2018

Palavra



Se for para proferir uma palavra
Que ela não seja inconsequente
Como o olhar cobiçoso de um flerte.
Que seja mais do que um perfume
Que o tempo consumiu no papel de carta.
Almejo a perfeição da palavra construída,
Na arquitetura de meus sonhos juvenis,
Com a esperança em cores vivas.
Desejo a palavra que possa transmitir
O tanino das emoções que produzi no coração.
Enrubesço-me diante das palavras fúteis.
Ouço o apóstolo que exorta a desviar das conversas frívolas,
Como um capoeira que se esquiva com o gingar do corpo.
Não suporto a falsa palavra que escapa da boca
Com trajes e máscaras de promessas.
Não perdoo o vilipendio das palavras mal concebidas
Nas trevas das esquinas perdidas das metrópoles.
Gosto da palavra livre, mas responsável!
A palavra cigana que conhece muitos lugares,
Sem pertencer a nenhum deles.
A palavra que se derrama pelo papel
Dando-lhe vida como sopro divino.
A palavra que encontra sua morada
Na alma errante de cada poeta.


11.07.2018



Poesia classificada em 4º Lugar no XXVI Prêmio Moutonnée de Poesia - 2018 - Salto / SP