sábado, 12 de outubro de 2019

Marcas na pele


          Vidas dilaceradas
          Corrente de elos rompidos
          O lar que se torna apenas paredes
          Como são todas as prisões.
          A incompreensão e a violência,
          A intolerância e a brutalidade,
          Carimbando marcas na pele
          Como se fossem ferros em brasa
          Atestando a ausência de liberdade.
          Os gritos abafados, a vergonha contida
          O sonho que se converte em fel amargo.
          Quanto ainda resta de tempo?
          Quanto ainda resta de gente
          No corpo que carrega marcas
          Que o espelho bem conhece
          E a alma esconde nas profundezas?
              
25.05.2019

Hai-cai (2)


Torrencial chuva
Natureza faz o expurgo
Da podridão humana

25.05.2019

Hai-cai (1)


Lágrimas nos olhos
Carros confusos na rua
Ânsia para fuga

25.05.2019

sábado, 5 de outubro de 2019

Maturidade


            Há um instante em que o destino
            Cobra o tributo pelos anos vividos.
            O tempo, malfadado escultor e artífice,
            Entalha em nossa face linhas e marcas,
            Com precisão, mas sem escrúpulos.
            Algumas são profundas, outras rasas.
            Todas, porém, confidentes da alma.
            A consciência corrige os ponteiros
            E anuncia a hora exata da vida:
            É chegada a maturidade!
            O hálito de frescor da juventude
            Esvaiu-se como o grão de areia
            Que escapa pelo buraco da ampulheta.
            É hora de recolher os despojos,
            Organizar os troféus e louros,
            Expor o elogio da biografia concluída,
            Evidenciar o heroísmo de outrora.
            Não é o fim. Certamente há o que caminhar,
            Ainda resta um tanto de estrada.
            Mas, acostuma-te, mortal, com o verbo.
            Há de decliná-lo em demasia no tempo pretérito,
            Pouco no presente e quase nada no futuro.

20.07.2019

Carlos Carvalho Cavalheiro

Poesia classificada em 3º Lugar na 2ª edição do Prêmio Febacla de Criação em Verso e Prosa.