sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Hoje



Hoje o muro da vergonha desmoronou
Vento da liberdade foi mais forte
E seu hálito alimentou as asas do pássaro
Que fora da gaiola valorizou o sol que brilhava
Avermelhando o céu, limpo de nuvens.
O muro que separava as pessoas caiu
E seus destroços permitiram a vida da erva,
Que persistente aguardava o tempo certo.
O muro desmoronou...
E tanta coisa maravilhosa se pintou de esperança,
E tanta vida foi renovada... apenas porque o muro caiu!
E tudo isso aconteceu num só dia.
Quanta novidade coube neste dia, hoje!

08.11.2019


sábado, 12 de outubro de 2019

Marcas na pele


          Vidas dilaceradas
          Corrente de elos rompidos
          O lar que se torna apenas paredes
          Como são todas as prisões.
          A incompreensão e a violência,
          A intolerância e a brutalidade,
          Carimbando marcas na pele
          Como se fossem ferros em brasa
          Atestando a ausência de liberdade.
          Os gritos abafados, a vergonha contida
          O sonho que se converte em fel amargo.
          Quanto ainda resta de tempo?
          Quanto ainda resta de gente
          No corpo que carrega marcas
          Que o espelho bem conhece
          E a alma esconde nas profundezas?
              
25.05.2019

Hai-cai (2)


Torrencial chuva
Natureza faz o expurgo
Da podridão humana

25.05.2019

Hai-cai (1)


Lágrimas nos olhos
Carros confusos na rua
Ânsia para fuga

25.05.2019

sábado, 5 de outubro de 2019

Maturidade


            Há um instante em que o destino
            Cobra o tributo pelos anos vividos.
            O tempo, malfadado escultor e artífice,
            Entalha em nossa face linhas e marcas,
            Com precisão, mas sem escrúpulos.
            Algumas são profundas, outras rasas.
            Todas, porém, confidentes da alma.
            A consciência corrige os ponteiros
            E anuncia a hora exata da vida:
            É chegada a maturidade!
            O hálito de frescor da juventude
            Esvaiu-se como o grão de areia
            Que escapa pelo buraco da ampulheta.
            É hora de recolher os despojos,
            Organizar os troféus e louros,
            Expor o elogio da biografia concluída,
            Evidenciar o heroísmo de outrora.
            Não é o fim. Certamente há o que caminhar,
            Ainda resta um tanto de estrada.
            Mas, acostuma-te, mortal, com o verbo.
            Há de decliná-lo em demasia no tempo pretérito,
            Pouco no presente e quase nada no futuro.

20.07.2019

Carlos Carvalho Cavalheiro

Poesia classificada em 3º Lugar na 2ª edição do Prêmio Febacla de Criação em Verso e Prosa.

domingo, 28 de julho de 2019

Estrada de terra


                                                                          Foto: Carlos Carvalho Cavalheiro


                                              É uma estrada de terra,
                                              eu sou um peregrino,
                                              poeira nos meus olhos
                                              busco o meu destino
                                               O meu mundo num Blues          
                                              Seguindo por essa longa estrada de terra
                                             
                                              Procuro respostas
                                              encontrarei certamente
                                              nesta distante estrada
                                              de carona na sua mente
                                              em cima duma Harley Davidson
                                              Seguindo por essa longa estrada de terra
       
                                              É apenas um sonho
                                              uma estrada de terra
                                              até alma incandescente
                                              por aqui emperra
                                               mesmo no filme Easy Rider
                                              Seguindo por essa longa estrada de terra

                                                                    Carlos Carvalho Cavalheiro
                                                                                      21.04.1998.

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Dulcíssima sonoridade


                                                                                                       Foto: Carlos Carvalho Cavalheiro
Ela bate o tambor
Tão doce
Como a cana permite sua dor
Para produzir o melaço.
Ela bate o tambor
Tão doce
Como a abelha que a cada gota de mel
Extrai de si mesma um pedaço.
Dulcíssima sonoridade...
Que embala, que bate, que luta
E planta
Afetividade.
Ela bate o tambor
Tão doce
Porque sabe que essa é a língua perdida
De seus ancestrais.

03.07.2019

segunda-feira, 24 de junho de 2019

HECATOMBE


Coquetel molotov cruzando os céus da cidade
Alto-falantes e sirenes perturbando o sono alheio
(e descobrindo a nudez das insônias).
Mais coquetéis acesos ferindo a carne da noite,
E outros coquetéis que celebram a decomposição dos carácteres.
Meus olhos poéticos veem cometas, filhos de Haley!
E por falar nisso, Bill Haley, Alex Haley... Roots.
Corre-corre pelas ruas, pessoas que se atropelam,
Cavalos que seguem a tara de seus cavaleiros.
Caótico mundo em que a esperança tem o parto a fórceps.
Gazes, lágrimas e pimentas que não temperam nada.
Eu no meio de toda a confusão, porque não posso estar alheio.
Marcham eles, marchemos nós... conjugação verbal
Por que não preferimos a conjunção carnal?
Luzes e hélices que nos caçam como ratos fugitivos.
Eu no meio de tudo isso, apenas querendo dizer
Uma vez mais: Eu te amo!

24.06.2019

sábado, 9 de fevereiro de 2019

BLUES DO SER



                   Meu nome é Ser
                   Oh, muito prazer
                   O meu nome é Ser
                   E não tem nada a ver
                   Com esse belo dia
                    Que vai amanhã ser
                 
                    Meu nome é Ser
                    Muito mais que ter
                    O meu nome é Ser
                    Não vai esquecer
                    Meu coração de fogo
                    Quente há que ser
      
                    Meu nome é Ser
                    Você vai me ver
                    O meu nome é Ser
                    Ligue a sua tevê
                    A minha imagem
                    Virá em grande ser.

                                                   
                                                                24.03.1998

A NOITE


       
É noite
E ele caminha,
Luzes refletem
Em seu rosto,
Os carros passam
E ele caminha.
O feitiço foi lançado,
Ele resistiu,
Ele venceu.
O feitiço insistiu,
Ele venceu novamente
E ele caminha.
O céu escuro,
As estrelas,
A lua,
Gargalhadas,
Cheiro de álcool,
Perfumes e batom
E ele caminha.
Nem tudo é obsceno,
À noite os deuses
E os demônios confundem-se.
Mais carros
E o trem,
Café-expresso
Música,
E ele caminha,
Solitário,
Não tem prazer,
Não tem vontade,
Vampiros querem
O seu sangue
E ele caminha.


                      29. 11. 1994

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Brumadinho



Alma, lama, tudo junto, indistinto.
Lama, alma, vida e morte que se encontram.
É um corpo? É algo inerte que o barro esconde?
Triste regurgitar da natureza, indigestão antrópica!
Triste trópico tropicando no verbo lucrar.
Valeu a pena? Vale a pena? Vale apenas?
Rompimento de barragem...
Por que não rompemos a barragem que nos separa,
Distanciando-nos, homem a homem, por aparências?
Irônica metáfora de nossas corrupções:
Mar de lama!
Resto de Pompéia em antítese!
A Justiça não enxerga, a Vida se mudou,
A Fé está desacreditada, a Esperança chora!
Somente o Amor é renitente, e talvez baste
A sua existência para que o ânimo retorne
Fazendo renascer a Vida, a Esperança, a Fé e a Justiça!

28.01.2019
Carlos Carvalho Cavalheiro