Olhos que vagueiam pelas ruas
E bocas que beijam o proibido
Na euforia das imagens que passam
As pernas das moças são mais visíveis
Do que as mãos que clamam pela caridade.
O que de humano ainda resta em mim?
Visto diariamente uma embalagem
Com a esperança vã de me tornar um produto
Com maior aceitação no mercado.
Vejo cabeças que se tornam degraus,
Pisoteadas por sapatos que tentam alcançar o céu.
Ouço um coro de anjos anunciando a Primavera de Vivaldi:
“O Pão é para quem tem fome... o pão é para quem tem
fome...”
A lua furta do sol o brilho que não possui.
Estranho processo alquímico que transmuta ouro em prata.
Lavagem de dinheiro? Mais corrupção?
O outdoor oferece gratuitamente a sua profecia:
Consuma e seja feliz!
O que de humano ainda resta em mim?
As ruas convertem-se num quadro... Guernica!
Saudades do tempo em que a miséria ainda sensibilizava...
“Armas para todo bom cidadão”
“Justiça com as próprias mãos”
“Matem o desgraçado, vangloriem-se de sua covardia”
Manchetes de jornal.
O preço apressado sem apreço a ninguém.
A cadeira do pé quebrado descansa no canto da sala...
A concretização metafórica de nossas imperfeições
Nada está completo, nada mais está em seu lugar.
No Coliseu moderno instalado em sua sala de estar
O público vaia, o público cospe e pede a morte, pede sangue!
Enquanto semideuses de terno em Brasília gargalham
Festejando as bacanais promovidas com o erário.
Alguém assovia o Hino Nacional lá fora. Dá para ouvir a
melodia.
O que de humano ainda resta em mim?
18.06.2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário